Reciprocidade

Enquanto eu a olhava dormir e fazia um cafuné em sua cabeça, me perguntei se merecia aquilo. Se aquela pessoa me merecia. Posso estar soando presunçosa, mas já passei por isso algumas vezes. Se doar, dar o seu melhor beijo, compartilhar sua essência. Pensei também no antigo amor que ainda está intacto na minha mente. Esse último não tive a oportunidade de ver sua fragilidade e inocência enquanto sonha. Tive tão poucos momentos que parece surreal pensar que o meu desejo por ela se permaneça tão vivo, depois de tanto tempo. Talvez isso só mostre que o meu gostar não é superficial. E eu gosto disso. Apesar de toda angústia que passei e ainda passo. Com o tempo eu deixei de acreditar na reciprocidade amorosa. É claro que o amor entre duas pessoas não é da mesma proporção. Mas quando se apaixonam, o interesse sentimental não é o mesmo. Eu posso me encantar pela beleza angelical de um rosto e o outro apenas por uma personalidade incomum. Sou jovem demais pra desacreditar assim, talvez só esteja me protegendo de futuras frustrações. Logo eu que sempre fui entregue. Defendia a bandeira de que devemos nos arriscar para viver a vida e conhecer as paixões que nos cercam. Eu sei que não perdi essa essência, ela está ai, em algum lugar dentro de mim. Só preciso me libertar e sentir novamente a segurança que sentia antes. Continuo velando o sono dessa menina. Eu sei que não existe um futuro e até nenhum merecimento da minha doação, mas se eu não tentar e não arriscar novamente, vou continuar perdido, nesse labirinto de medo. Dou um beijo em sua testa e deixo-me adormecer também, na esperança de que amanhã eu me permita amar novamente.